Morte do Papa Bento XVI: O Fim da Era do Papado Duplo e o Legado do Pontífice Conservador

Morte do Papa Bento XVI: O Fim da Era do Papado Duplo e o Legado do Pontífice Conservador

Morte do Papa Bento XVI: O Fim da Era do Papado Duplo e o Legado do Pontífice Conservador
22/04

O Adeus ao Papa Bento XVI: pontificado conservador marcado por polêmicas e mudança histórica

O mundo católico encerrou 2022 com uma notícia que surpreendeu até quem não acompanha de perto a Igreja: Papa Bento XVI, nome de batismo Joseph Ratzinger, morreu aos 95 anos, no mosteiro Mater Ecclesiae, dentro do Vaticano, onde vivia recluso desde sua renúncia inédita em 2013. Quando Bento XVI anunciou, em latim, sua decisão de deixar o cargo após oito anos conturbados, a sensação foi de terremoto em Roma: havia quase seis séculos que um papa não tomava iniciativa tão drástica.

A surpreendente renúncia gerou algo jamais visto na história moderna Igreja: dois papas convivendo ao mesmo tempo, o recém-eleito Francisco e o ex-pontífice emérito, ambos dentro do Vaticano. Esse arranjo causou desconforto entre conservadores e progressistas, agravando as divisões internas ainda mais expostas pelo pontificado duro e tradicionalista de Bento.

Até seus últimos dias, Bento XVI foi figura central em debates sobre os rumos do catolicismo, mesmo fora do cargo. Durante o pontificado, seu perfil teológico conservador enfrentou ânimos exaltados, em especial pelo modo como tratou temas como direitos LGBTQ+, contracepção e reformas consideradas liberais. Ratzinger era visto como guardião da doutrina, um freio à modernização desejada por parcelas da Igreja.

Escândalo Vatileaks, abusos e funeral sem símbolos: a face pública e privada de Bento

Escândalo Vatileaks, abusos e funeral sem símbolos: a face pública e privada de Bento

Entre 2005 e 2013, o papado de Bento XVI ficou pressionado pelo escândalo Vatileaks: documentos secretos vazaram à imprensa, expondo brigas internas pelo poder, suspeitas de corrupção e dificuldades financeiras no Vaticano. Ninguém ficou indiferente. O caso abalou de vez a imagem do governo papal.

Outro ponto sensível foi sua atuação diante das denúncias de abuso sexual de clérigos. Antes mesmo de assumir como papa, Ratzinger já comandava desde 1981 a Congregação para a Doutrina da Fé, onde era responsável por analisar acusações gravíssimas contra membros da Igreja. A resposta considerada tímida e burocrática deu munição para críticos, levantando questionamentos sobre sua real disposição de confrontar o problema.

Bento XVI também se destacou pelo embate direto com correntes modernizadoras. Suas encíclicas, discursos e motu proprio — documentos papais autoritários — reafirmavam o lugar do catolicismo tradicional, em contraponto ao perfil mais aberto de Francisco que viria pouco depois.

A morte de Bento, após semanas de saúde debilitada que o atual papa Francisco não hesitou em comunicar ao mundo, marcou o fim de uma convivência inédita. Como Papa Emérito, Bento manteve vestimentas brancas e títulos, mas sempre prometeu obediência total ao sucessor. Seu funeral em janeiro de 2023 foi marcado pela omissão de símbolos tradicionais, como os famigerados sapatos vermelhos e o pallium, faixa litúrgica papal: sinais das fronteiras entre a antiga autoridade e a nova fase da Igreja — menos hierárquica e mais aberta a mudanças.

No último adeus realizado na Praça de São Pedro, a atmosfera era diferente dos protocolos rígidos do passado. Amigos próximos, como Dom Georg Gänswein, ressaltaram o legado paradoxal de Bento: um pontífice que revolucionou pela renúncia, desmistificou o cargo máximo da Igreja e, ao mesmo tempo, travou batalhas intensas para manter valores inegociáveis. Sua morte encerra não só uma trajetória marcada por polêmicas e fé, mas também o capítulo do papado duplo que sacudiu as estruturas do Vaticano.

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