Circulou a ideia de que Thiago Monteiro teria perdido uma final de Challenger e, ainda assim, entrado no Top 100. Não foi o caso nesta semana. O brasileiro está fora dessa faixa — na casa do 169º lugar — e seu último resultado de destaque recente foi a campanha até as quartas no Challenger de Como, em agosto. Então por que esse assunto volta? Porque um vice em Challenger, dependendo da categoria do torneio, realmente pode empurrar o ranking para dentro do Top 100. A matemática dá conta disso.
Monteiro, 31 anos, canhoto, base sólida no saibro, já foi Top 100 em outras temporadas e conhece o caminho. A questão, agora, é volume de pontos nas próximas semanas e gestão de calendário. O circuito Challenger virou o terreno onde ele precisa ser constante: quartas todo fim de semana não bastam; é preciso emplacar finais — e, se possível, títulos — em eventos com pontuação mais pesada.
O ranking da ATP soma os 19 melhores resultados do jogador no período de 52 semanas. Isso significa que cada “ponto novo” entra e o “ponto velho” da mesma semana do ano anterior sai. Jogador que progride não pode só somar; precisa, antes de tudo, superar o que defendeu. É esse empurra-empurra de pontos que define quando um vice vale ouro e quando ele só evita queda.
Comecemos pelos números, que são o que interessa. A ATP tem cinco níveis principais de Challenger, cada um com uma escada de pontos diferente para finalistas:
Qual é o “corte” do Top 100? Oscila conforme a época do ano, mas costuma ficar entre 600 e 650 pontos. Já o miolo do ranking entre 160º e 170º costuma somar algo entre 330 e 420 pontos. Traduzindo: para voltar à elite, Monteiro precisa, grosso modo, turbinar o total em 200 a 300 pontos nas próximas semanas, lembrando que parte disso substitui resultados antigos. Não é simples, mas está longe de ser impossível.
Veja cenários práticos que recolocam o brasileiro na briga, sem depender de milagres:
Por que um vice já mexe tanto no ranking? Porque, nesses níveis, a rampa de pontos não é linear. A diferença entre semifinal e final, por exemplo, pode variar de 15 a 40 pontos conforme a categoria. Em oito a dez semanas, dois vices em 125 ou um vice em 175 podem valer mais do que quatro ou cinco quartas de final seguidas.
Como encaixar isso no calendário? O período pós-US Open oferece uma porção de Challengers no saibro e no piso duro, na Europa e na América do Sul. Para Monteiro, que rende bem no saibro, eventos 100 e 125 no continente europeu são oportunidades claras. A chave aqui é mirar chaves cheias, com adversários duros, mas que pagam mais pontos, e evitar pular de torneio em torneio sem recuperação física. Duas semanas bem jogadas valem mais do que quatro sem fôlego.
Outro fator pouco percebido: a defesa de pontos. Se, no mesmo recorte de 52 semanas, o brasileiro tiver um título antigo de Challenger 75 (75 pontos) prestes a cair, um vice em Challenger 75 (50) não soma; só reduz o prejuízo para 25 pontos. O que realmente desbloqueia o ranking é substituir resultados baixos (9, 11, 15 pontos de primeiras rodadas) por semifinais e finais em torneios mais fortes.
E o benefício de voltar ao Top 100? Além do status, há o lado prático: vaga direta em Grand Slams (sem qualifying), acesso a ATP 250 maiores e possibilidade de planejar temporadas com menos deslocamentos e mais tempo de treino. Financeiramente, a diferença é gigantesca. Cada chave principal de Slam pode render mais do que várias semanas de Challenger.
Do ponto de vista técnico, o pacote está claro: primeiro saque mais eficiente para ganhar pontos curtos, devolução agressiva nos 30-30 para quebrar mais vezes, e gestão de energia nas primeiras rodadas para guardar perna para as finais. No saibro lento, onde Monteiro historicamente se sente à vontade, isso significa atacar a segunda bola e evitar alongar rallys quando já estiver com vantagem na troca.
O recado final para o torcedor é simples: um vice em Challenger não é “derrota boa” por definição, mas pode ser o empurrão que faltava se vier na categoria certa e na semana certa. Com um par de finais e um título nos próximos dois meses, o brasileiro volta a conversar com o Top 100 — e, de quebra, carimba posição melhor para a gira de início de 2026.
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